P |
Marilda de Barros Tavares
resa por roubar um pote de manteiga!
Quem não se lembra da história dessa mãe, pobre e desempregada, na cidade de São Paulo, que vivia em situação bastante precária e acabou por não resistir ao desejo de satisfazer a vontade de seu filhinho de 2 anos: comer um pão com manteiga! Afinal, que mal haveria em pegar apenas um, no meio de tantos e tantos potes de manteiga?
Seguindo essa lógica de pensamento, podemos nos perguntar que mal há em tantas outras coisas. Que mal há em contar apenas uma mentirinha, ou em fazer uma fofoquinha inocente ou um comentário sem maldade? Que mal há em contar apenas uma piadinha maliciosa ou em dar só uma espiadinha em um site pornográfico? Que mal há naquela puladinha de cerca no relacionamento conjugal, afinal é só uma escapadinha? Enfim... que mal há?
Quem nunca se viu diante dessas e de tantas outras situações tão “inofensivas” e, ao mesmo tempo, tão difíceis, conquanto nos colocam à prova? Quem nunca sucumbiu a uma delas?
A tentação pode parecer razoável. Pode ser um caminho mais fácil... uma situação atraente... e... de repente, o errado pode parecer certo, como no caso da mãe e o pote de manteiga.
Encontramos na bíblia (Gn 37:1 a 50:26) a história de José, que, vendido por seus irmãos como escravo, se tornou o segundo homem mais importante do Egito. Foi abençoado por Deus de tal forma que obtinha sucesso em tudo o que fazia enquanto servia na casa de Potifar, seu senhor. Tudo ia muito bem, até que a mulher de Potifar começou a olhá-lo com desejo carnal, chegando a propor-lhe várias vezes que se deitasse com ela. José era jovem, seus hormônios estavam à flor da pele e, certamente, ele viveu, naquele momento, uma batalha real, comum ainda nos dias de hoje entre os jovens cristãos. Ele poderia ter imaginado que aquilo lhe abria caminhos, lhe traria facilidades, lhe renderia vantagens e, por isso, ter aceito. Mas, ao contrário, manteve-se firme. Não cedeu aos encantos daquela mulher. Foi acusado injustamente, por ela, de cometer adultério. Pagou o preço! Foi preso! E preso por causa de uma mentira! Mesmo assim, manteve-se fiel a Deus e continuou andando com Ele (Gn 39:2 e 23)
Há algo em comum entre a história da mãe e o pote de manteiga e a história de José.
Ambos vivenciaram a experiência da tentação. Ambos tinham ambições, desejos e necessidades carnais. Porém a reação ante a tentação foi muito diferente.
A diferença está em que José manteve confiantemente seus olhos em Deus. A mãe, do pote de manteiga, manteve seus olhos na necessidade de seu filho. José confiou em Deus para resolver seu problema. A mãe confiou em si mesma. José foi fortalecido pelas tribulações que já havia vivido. A mãe foi, certamente, enfraquecida por elas. José, cada vez mais, se aproximava de Deus. A mãe, ao que parece, cada vez mais se afastava de Deus.
Jesus, antes de iniciar seu ministério na terra, foi levado pelo Espírito Santo ao deserto onde foi terrivelmente tentado por Satanás (Mt 4:1-11) que usou a própria palavra de Deus para lograr seu intento. Tentou-O com tentações da carne – Jesus tinha fome (Mt 4:3). Tentou-O com tentações da alma, pretendendo atingi-Lo em seus desejos do ego – despertando a soberba, a vaidade e o reconhecimento de que era, de fato, o Filho de Deus. (Mt 4:5 e 9). “A intenção de Satanás era levar Jesus a pecar para, dessa forma, frustrar o plano de Deus para a redenção do homem, desqualificando-O como o Salvador” (A bíblia anotada – comentário). Jesus, porém, como Filho de Deus, conhecia sua missão; como o Verbo que se fez carne, conhecia suas fraquezas e buscou, também na Palavra, suas respostas a Satanás (Mt 4:4 e 7) expulsando-o de Sua presença (Mt 4:10), frustrando, assim, o seu plano. Vemos que o ataque de Satanás contra Jesus foi exatamente aos aspectos que também se constituem em nossas fraquezas: prazer e poder.
Todos os dias temos desejos. Todos os dias temos necessidades: necessidades do corpo, necessidades da alma! Todos os dias somos expostos à situações tentadoras. Mas a bíblia nos ensina que Deus não permite que sejamos tentados além do que podemos resistir e, que, além disso, Ele próprio nos dá os meios para resistirmos às tentações. (ICo 10:13)
Lucado nos alerta que Satanás não ousa nos encarar. Ele joga sujo.
[...] Ele espreita até o momento em que você está de costas. Espera suas defesas fraquejarem. [...] Então, aponta os dardos para o seu ponto mais fraco e... Na mosca! Você perde a calma, cobiça. Cai e se arrasta. [...] Você nega seu mestre. É Davi desnudando Bate-Seba. É Adão aceitando o fruto das mãos de Eva. É Abraão mentindo acerca de Sara. É Pedro negando que conhecia Jesus. É Noé, bêbado e nu em sua tenda. É Ló, deitando-se com suas próprias filhas. É o seu pior pesadelo. É repentino. É pecado.Satanás anula nossa consciência [...] Sabemos o que estamos fazendo e, ainda assim, não acreditamos que estamos fazendo aquilo. [...] temos o desejo de parar, mas não encontramos forças para fazê-lo. [...] Queremos correr, mas, infelizmente, também queremos ficar. [...] Confusão, culpa, racionalização, desespero. É tudo isso. Coisas que batem forte. De repente, nos vemos cambaleando [...] (LUCADO in SWINDOLL C. et al.; 1999.p.108)
Até mesmo os servos mais fiéis e que tinham íntima comunhão com Deus, foram sujeitos às tentações. Nós, da mesma forma, como crentes em Jesus Cristo, não estamos blindados, não estamos livres delas diariamente em nossas vidas. Porém, nossas necessidades pessoais não nos eximem da responsabilidade de obedecer a Deus, com quem temos um compromisso de fidelidade e de fé.
Aprendemos, quando observamos a atitude tanto de José como a de Jesus diante das tentações, que podemos lidar com elas. Precisamos, em primeiro lugar, confiar em Deus e manter nossos olhos firmados nEle todo o tempo (Sl 55:22, Is 26:3, Ti 4:7). Precisamos conhecer e usar a Palavra (Sl 119: 11, 25 e 28, Ef 6:17, 2 Tm 3:16). Precisamos, de igual modo conhecer, nossas fraquezas, sabendo que ali seremos atacados (Gl 5:16 e 17). Além disso, Paulo nos exorta em relação aos nossos pensamentos (Fl 4:8), porque eles são a origem de uma possível queda frente às tentações. Quando deixamos de ocupar nossas mentes com aquilo que procede de Deus nos tornamos alvos fáceis para o ataque de Satanás.
Assim, podemos fazer nosso, o lema dos escoteiros: sempre alerta! Afinal a bíblia nos ensina que devemos vigiar e orar em todo o tempo (Mt 26:41, Ef 6:18, IPe 5:8). Vencer a tentação é uma batalha que exige de nós, além de um relacionamento íntimo com Deus, força, coragem e determinação.
Sempre Alerta!